quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Fractura.Net

Câmara Escura [revelação]



Foi com prazer que respondi ao convite do meu caro amigo Joaquim Amândio Santos. Assim, lá estive na FNAC do NorteShopping a assistir à apresentação do seu mais recente livro, o “Câmara Escura [revelação]“, apresentação que se saldou num êxito - êxito que repete o alcançado com a sua obra anterior, “Pedra Sobre Pedras“.

Não há muito a dizer acerca do trabalho de Joaquim Amândio Santos no que à poesia concerne. Talvez se possa dizer apenas que é a obra que transcende o autor, que o transfigura em poeta. Não fosse isso e existiria muito mais facilidade nas explicações encontradas pelos oradores convidados.

Na realidade, nem sequer sei se o que Joaquim Amândio faz é poesia. Sei que escreve e descreve, expõe sem dar sentido, subverte a escrita e arredonda-lhe a palavra. Talvez isso seja poesia mas creio que a definição é o que menos importa nos trabalhos do autor.

Para mim o que é interessante na obra é a ousadia revelada, o “saír do armário” de um técnico [porque o é, da comunicação, do marketing, da reportagem, da política] que remete para o papel tudo aquilo que lhe vai na alma sem prejuízo do que realmente é. É essa ousadia, a da vertigem de tudo querer revelar, que aplaudo uma vez mais.

É, para todos os efeitos, um abrir de portas ao abalar de convenções mais ou menos estereotipadas do que pode, do que deve ser a poesia. Os tempos que correm exigem leituras diversificadas da realidade, creio que é isso o que Joaquim Amândio Santos faz melhor. O seu confesso epicurismo na concepção do trabalho, a sua noção estética global, o sabor que empresta à obra, dão-nos uma oportunidade de saborear os seus escritos por camadas. Desengane-se quem considere, numa primeira leitura, ser esta uma obra superficial. Não o é, pelo menos se lhe dedicarmos o tempo necessário para adquirir o sabor às palavras. E pode ser, é, um tempo que reservamos para o nosso íntimo. Um tempo de prazer, é este o objectivo da escrita do Joaquim, da escrita que oferece e da leitura que proporciona.

O meu ponto de vista acerca da poesia é tal que nem sequer me prendo muito no que leio. Para mim, a poesia é, antes de mais, a oportunidade de complementarmos a leitura com a imaginação. Dizer o que não foi escrito, adaptar o que lemos à nossa realidade. Talvez isto possa ferir os objectivos de muitos autores. Mas é isso que faço.

Numa poesia, se o autor me oferece uma mensagem, eu logo a completo. Faço-lhe o resto do poema, “o que faltava”. Aliás, esse era um passatempo meu por aqui pela blogosfera. O de “acabar poemas” na caixa de comentários. O Joaquim Amândio Santos permite essa ocupação. Talvez ele diga tudo o que quer dizer. Talvez não. Mas, pelo menos a mim, dá-me a oportunidade de exercer esse prazer de continuar, de globalizar um pouco mais o sentimento, de lhe dar um sabor pessoal. Isso é, realmente, um prazer.



Quanto à apresentação em si, ao “espectáculo” montado, foi o suficiente para encher a sala da FNAC. O DJ de serviço cumpriu bem a função, os oradores convidados foram bem sucedidos. O público apoiou e aplaudiu a apresentação e, pelo número de dedicatórias que foram escritas e assinadas, houveram muitos livros saídos logo ali do escaparate. E isto de dedicatórias é uma ssunto complicado quando de trata do Joaquim. Ele insiste na dedicatória personalizada e consegue estar com cada uma das pessoas que a solicita aí uns bons cinco minutos à conversa. Daí que a piada lá para o final fosse que o próximo livro da Negra Tinta se trate de um “livro de dedicatórias” do Joaquim Amândio Santos. Livro que não seria uma piada, pelo contrário. O Joaquim imprime na dedicatória um esforço semelhante ao da composição de um poema e cada um de nós pode ter a certeza de que o que possui é, realmente, uma dedicatória - a si e única.

Por fim, a miserável nota negativa. Tinha que ser.

Para um evento que lança a firme intenção de publicar escritos com génese na blogosfera [à semelhança das suas duas obras] e que se propõe a lançar e apoiar a literatura que por cá se encontra [uma discussão em aberto, notícias hão-de surgir lá mais para a frente], conforme foi publicitado, conforme foi conformado pelo autor e principal responsável por este empreendimento, muito poucos bloggers compareceram. É pena, teria sido o local ideal para se delinearem ideias, para se congeminarem projectos.

Para os que faltaram, ainda não é tarde: a 28 de Junho o autor apresentará a obra em Lisboa, na FNAC Chiado; a 5 de Julho será a vez da FNAC em Coimbra de receber este evento.

Compareçam, é de borla e dá que conversar.

Fractura.Net

CJT em 16 Junho de 2007

1 comentário:

Anónimo disse...

deves-me um almoço!